Diário de uma condutora loira

Diário de uma condutora loira

10 Outubro, 2018 Não Por admin

Diário de uma condutora loira!

Querido Diário…

Passei no exame de condução! Posso agora conduzir o meu próprio automóvel, sem ter de ouvir as recomendações dos instrutores, sempre a dizerem-me:

– “por aí é proibido!”
– “vamos em contra-mão!”
– “olha a velhinha! trava! trava!”
e outras coisas do género. Nem sei como aguentei estes últimos dois anos e meio …

8 de Janeiro

A escola de condução fez-me uma festa de despedida. Os instrutores nem sequer deram aulas. Um deles disse que ia à missa, julgo que vi outro com lágrimas nos olhos e todos disseram que iam embebedar-se, para comemorar. Achei simpática a despedida, mas penso que a minha carta não merecia tal exagero.

12 de Janeiro

Comprei carro, infelizmente tive que deixar o carro no concessionário para substituir o pára-choques traseiro, pois quando tentei sair, meti marcha-atrás em vez de primeira. Deve ser falta de prática. Há uma semana que não conduzo!

14 de Janeiro

Já tenho o carro. Fiquei tão feliz ao sair do “stand”, que resolvi dar um passeio. Parece que muitos outros tiveram a mesma ideia, pois fui seguida por inúmeros automóveis, todos a buzinar como num casamento. Para não parecer antipática, entrei na brincadeira e reduzi a velocidade de 10 para 5 km por hora. Os outros gostaram buzinando ainda mais.

22 de Janeiro

Os meus vizinhos são impecáveis. Colocaram cartazes avisando em grandes letras: “ATENÇÃO ÀS MANOBRAS”, marcaram com tinta branca um lugar bem espaçoso para eu estacionar e proibiram os filhos de sair à rua enquanto durassem as manobras. Penso que é tudo para não me perturbarem. Ainda há gente boa neste mundo …

31 de Janeiro

Os outros automobilistas estão sempre a buzinar e acenar-me. Acho isso simpático, embora um pouco perigoso. É que um deles apontou para o céu com o dedo espetado. Quando procurei ver o que me apontava, quase bati. Valeu que ia à minha velocidade de cruzeiro de 10 à hora.

10 de Fevereiro

Os outros automobilistas tem hábitos estranhos. Para além de acenarem muito, estão sempre a gritar. Não os ouço, por ter os vidros fechados, mas julgo que me querem dar informações. Digo isto porque julgo ter percebido um a dizer “vai para casa”. A ser verdade, é espantoso, não sei como ele adivinhou para onde eu ia. De qualquer modo, quando eu descobrir onde fica o botão de abrir os vidros vou tirar muitas dúvidas.

19 de Fevereiro

A cidade é muito mal iluminada. Fiz hoje a minha primeira condução nocturna e tive sempre de andar nos máximos, para ver convenientemente. Todos os automobilistas com quem me cruzei pareciam concordar comigo, pois também ligaram os máximos e alguns chegaram mesmo a acender outros faróis que tinham. Só não percebi a razão das buzinadelas. Talvez fosse para espantar qualquer cão ou gato, sei lá.

26 de Fevereiro

Hoje tive um acidente … entrei numa rotunda, e como havia muitos automóveis (não quero exagerar, mas deviam ser no mínimo, uns quatro), não consegui sair. Fui dando voltas bem juntinho ao centro, à espera de uma oportunidade de tal forma que acabei por ficar tonta e fui chocar com o monumento ao centro da rotunda. Acho que deviam limitar a circulação nas rotundas a um carro de cada vez.

3 de Março

Estou em maré de azar. Fui buscar o carro à oficina e, logo à saída troquei os pés, acelerando a fundo em vez de travar. Abalroei um carro que ia a passar, amassando-lhe todo o lado direito. O automobilista era, por coincidência, o engenheiro que me fez o exame de condução. Um bom homem, sem dúvida. Insisti em dizer-lhe que a culpa era minha, mas ele educadamente, não parava de repetir: “que Deus me perdoe! Que Deus me perdoe!”

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