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É inaceitável que seja o dinheiro dos contribuintes a pagar a modernização do sector dos táxis. Sobretudo quando este teve meios e tempo para se modernizar mas optou sempre por não o fazer.
Chamam-lhe “síndroma UBER”, e não é mais do que a inquietação que gestores e agentes económicos sentem face à emergência de novos concorrentes, nascidos precisamente das ineficiências das empresas tradicionais – introduzem mais inovação, mais tecnologia e impõem menos custos. Os líderes das maiores empresas do mundo percebem que das duas uma: ou se adaptam, antecipando alterações significativas nos seus modelos de negócio, ou são ultrapassados. Eis, portanto, um bom ponto de partida para ler a colisão, em Portugal, entre o sector dos táxis e o serviço UBER – e perceber o quanto a solução do governo está errada.
O serviço prestado pelos táxis foi, até recentemente, um exclusivo dos táxis. Sem alternativa. E daí que se tolerasse as suas ineficiências, que nunca foram poucas: imprevisibilidade de tempo de espera, má educação, veículos degradados, condução agressiva, ameaças, odores vários, embriaguez, percursos propositadamente mais longos, tarifas mais altas. Não acontece sempre e até pode nem ser a regra, mas acontece vezes demais. E, enquanto sempre foi assim, nunca as empresas do sector ou os seus sindicatos encontraram dentro de si vontade para corrigir esses problemas. O seu erro começa aí: é que, entretanto, houve quem viesse resolvê-los por si – a UBER.
As vantagens da UBER são proporcionais às desvantagens do serviço dos táxis, visto ser uma alternativa pensada à medida dessas ineficiências – o que os táxis têm de mau, a UBER tem de bom. Apesar disso, esta é, legalmente, uma alternativa coxa, à qual falta regulamentação? Sim, da mesma forma que existe um vazio legal sempre que a inovação irrompe pela realidade, formatada por defeito para as actividades existentes. Sendo essa a questão, adeqúe-se a legislação, regulamente-se e encerre-se o assunto. Mas é mesmo essa a questão? Para os taxistas e para o governo, não parece que seja.
Por um lado, os taxistas nunca quiseram corrigir as ineficiências do seu sector e, agora, também não querem concorrência – entenda-se, pretendem a proibição de circulação dos carros do serviço UBER, por via da lei ou da intimidação e violência. Querem o melhor de dois mundos, uma posição impossível de defender e digna de quem julga deter um monopólio por direito. Por outro lado, mais preocupante, o governo propõe-se a gastar 17 milhões de euros dos contribuintes na modernização do sector dos táxis, cerca de 1500€ por taxista registado (como assinala o Carlos Guimarães Pinto), atirando dinheiro público para o problema. E sem que se perceba exactamente o ganho desse investimento para o público.
De facto, se a posição dos taxistas tem uma lógica corporativa, embora errada, a decisão do governo não poderia estar mais errada ou ser mais ilógica – por três razões. Primeiro, porque o Estado está a investir em empresas que recusaram investir nelas próprias. O apoio à modernização dos táxis é um apoio a empresas privadas que têm (e tiveram) meios e tempo para se modernizar mas optaram sempre por não o fazer, prestando um serviço de pior qualidade no conforto de um monopólio. Como tal, é inaceitável que seja agora o dinheiro dos contribuintes, muitos dos quais deixaram de utilizar táxis, a pagar um resgate que os próprios taxistas recusaram evitar. Segundo, porque o Estado interfere num mercado do sector privado: se as pessoas preferirem um UBER a um táxi, compete ao Estado suportar os prejuízos dos táxis? Óbvio que não. Além de que a decisão abre um perigoso precedente: da próxima vez que a tecnologia e a inovação ameaçarem um negócio, o Estado vai suportar os custos da ineficiência desse negócio? Terceiro, porque, para além de errada, a solução passa ao lado do real problema: os taxistas não querem modernizar-se, querem que tudo fique como estava há 10 anos atrás. Daí que o mais certo seja que, depois de gastos os 17 milhões, tudo fique na mesma. E daí que o anúncio do governo possa acalmar temporariamente os ânimos, mas não satisfaça as reais pretensões dos taxistas – a proibição do serviço UBER.
Isto é tudo demasiado evidente para que, no governo, tenha passado despercebido. Daí que a decisão de pagar a modernização dos táxis só possa ser lida sob o objectivo de agradar e comprar a paz no sector dos transportes – que tem muita força reivindicativa e cujos protestos podem fragilizar os equilíbrios políticos da “geringonça”. É verdadeiramente triste se for esse o caso.
O Portugal dos discursos enche a boca de “inovação” e “empreendedorismo”. Fica sempre bem no papel. Mas, no país real, aquele que mistura corporativismos e interesses políticos de curto prazo, persegue-se qualquer ameaça ao status quo, proibindo-a ou recompensando com dinheiros públicos as empresas que, precisamente, escolheram não inovar. O PS, carente de apoios e de uma vitória eleitoral, parece disposto a fazer desse cocktail de corporativismo e interesses o seu seguro de vida. É por isso que, digam o que disserem, o erro vai muito além de táxis e de ubers. É que um país governado assim não pode ir longe.